segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Rum Para Rondônia - Luiz Roncari

Peça pelo numero 876, corre que só tem um.

Entrei neste livro. Foi perambulando um dia pelas ruas do centro de São Paulo que entrei num sebo imundo, daqueles que só boêmios e artistas doidões frequentam. Cheiro de gordura de mão, comida por fungos. Os fungos estavam em sua hora de perpétuo almoço. Olhei a escuridão do sebo e pensei, hoje eu pego ao menos um deles e levo pra ser meu escravo. Mas qual deles pegaria? Quem eu estava procurando se não a mim mesmo dentro de algum daqueles livros. Olhei para a estante de direito e tive uma ânsia de vômito e um sentimento de que tudo no mundo que é escrito, fica para todos e para ninguém. No caso dos livros de direito, senti que a palavra "ninguém" devia ter enfase na frase. Continuei minha investigação. Tinha pouco dinheiro, o que demandava escolher não um lindo livro de artes, mas sim um mendigo sujo e fedorento daqueles que pudessem em sua experiência de vida me dizer algo inusitado. Olhei para a estante de literatura brasileira e, la estava um ilustre desconhecido. Um candidato a nada, uma séta no escuro a procura de um alvo. Peguei o livro. Capa meio encardida, corte amarelado. Paguei o dono do sebo e fui caminhando pelo Largo do Arouche lendo minha velha nova aquisição. Pulei os agradecimentos, voltaria a eles no fim se tivesse a fim. Parei em frente ao Chichá que ainda não tinha sido preso no meio de grades verdes, encostei-me uma enorme raiz que saia da terra e ia céu acima no meio dos edifícios e comecei a acompanhar o aventureiro maldito em sua terrível desventura em terras paulistanas. Entrei com ele nos bares, via as putas, via as luzes de neon, fui atirado com ele num porta-malas de um carro e nadei com o cara na lama do rio Pinheiros, perto da raia da USP. Dai, emputeci e fui para Rondônia montar um negocio com ele, mas a caminhada até lá, ah isto eu não posso te contar porque as vezes fede e as vezes cheira perfume de vagabunda.

Rudy Books


"Vida nova, Na cidade, vivo com a impressão de que eu estou apodrecendo. tenho medo de um dia coçar a  orelha e ela cair. Parece que alguma coisa está se enfiltrando pelos poros e corroendo as ligações entre as células. Ouço um zumbido só, como um batalhão de moscas invisíveis tivesse invadido minha cabeça.[...]"
Luiz Roncari

Tenho no meu sebo, quer entrar nesta aventura?

Só 10,00 mais frete.
 Peça pelo numero 876

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